Ola navegantes,
Não, sua capitã não vai abandonar o leme, só vou contar uma historia que aconteceu a mais ou menos dois anos atrás (ou ate mais! Muito mais!).
Perto da minha casa, tinha duas enormes árvores. Sabe essas flores da imagem? São flores das mesmas árvores das quais eu cito (um dia ainda vou tirar uma magnífica foto dessa árvore!). Elas eram enormes e ficava em frente a um batalhão do corpo de bombeiros.
Essas árvores floresciam quase todos os meses, mas se me recordo bem, a principal época que elas floresciam era no final do ano, talvez em outubro ou novembro. Eu ignorava a existência delas e em raros momentos de reflexão notava o quanto era bom passar debaixo delas. Afinal, as flores delas caiam sobre o chão formando um tapete amassado (devido ao trânsito) de flores, e sinceramente a cena era muito bonita.
Não me lembro ao certo quando, mas bem perto do final do ano, as árvores floresceram. Claro, normal, era a época de elas florescerem. Mas para a minha surpresa, uma delas floresceu amarela! E aquilo foi o suficiente para chamar minha atenção.
Todo dia, quando ia ou voltava da escola, adorava ficar olhando para elas. E juro que aquilo poderia se tornar um quadro de tão bonita que ficava. As flores que caiam se misturavam conforme o vento ficando no chão, formando um tapete amarelo e laranja, amassadas claro. E foi então que notei coisas obvias (aquelas coisas que mesmo sendo esfregadas nas nossas fusas, nunca notamos, pois exigem que você reflita).
Notei que, mesmo em um dia quente e abafado desse clima maluco de Brasília, sumia quando passava debaixo dessas árvores, pois uma brisa suave sempre estava por lá. Notei o quanto era bom à sombra daquelas árvores em veio a tanto asfalto. Notei o quanto bonita ficava aquela rua.
E principalmente, notei o quanto estava me apegando imensamente á aquelas árvores.
Enfim, o ano foi acabando e o auge do florescimento das árvores também. Lembro que quando não tinha tantas flores como antes e que elas começavam a adquirir uma única cor: verde musgo (das folhas é claro), eu sorri e pensei:
"Tomara que ano que vem elas floresçam de novo! Do mesmo jeito."
Mas não floresceram...
Um dia, acho que na metade do ano seguinte, estava voltando de algum lugar (escola provavelmente) e vi bombeiros derrubarem as árvores. Lembro de ter os visto tirarem seus galhos com as serras elétricas, deixando-as cada vez mais miúdas. Horrorizada com a cena, perguntei a minha mãe o motivo daquilo tudo.
E ela me disse:
"Parece que as árvores atrapalham quando eles pousam com o helicóptero. Sem contar que os galhos ficam batendo na fiação."
Lembro-me de passar todos os dias em frente ao que sobrou delas: tocos de madeira. Olhava tudo aquilo com certa melancolia e um aperto no peito. Mas notei que, aos poucos, pequenos ramos iam nascendo e isso me deu esperanças.
Esperança que não durou muito, pois alguns dias depois desses novos raminhos os bombeiros apareceram com uma nova maquina, especializada em tirar tronco e suas raízes. O processo durou dois dias, primeiro a árvore da esquerda, depois da direita. E em ambos os dias, eu vi a morte dessas árvores.
E então um sentimento de culpa nasceu em mim. Eu poderia ter feito algo, não poderia? Poderia ter pedido para eles plantarem-na em um outro lugar. Poderia ter me algemado a árvore e começar um protesto ecológico (que quem sabe, poderia ate fazer os jornalistas se interessarem). Poderia ter dito que aquelas árvores eram patrimônios da cidade, por serem tão velhas (apesar de eu nunca ter descoberto as idades delas). E poderia ate dizer que elas deveriam ser pesquisadas afundo pela genética botânica, pois nunca tinha visto e nunca vi (depois delas) árvores desse tipo com flores amarelas.
Mas eu não fiz, só fiquei quietinha os vendo assassinarem minhas árvores. Não sinto raiva dos bombeiros e nem de ninguém, nem de mim mesma! Só sinto saudades. Às vezes me pergunto por que ninguém fez nada. E se fez, porque não fez mais barulho? Chamou o jornal? Algemaram-se as árvores?(ok, algemar-se as árvores talvez seja exagero e um ato de desespero, mas maioria das vezes funciona, não?).
Agora o lugar onde ficava as árvores é só um estacionamento idiota e um canteiro minúsculo de 'flores'. Ou melhor, um canteiro de grama, pois não tem nada plantado por lá.
Acredito que as flores amarelas teriam sido presentes de despedida. Talvez seja bobagem minha, mas seria uma coecidencia ela terem florescido desse jeito quando suas sentenças de morte foram escritas. Duvido muito que esse presente seja para mim ou para qualquer outra pessoa que morava por perto. Creio que era um presente para todos e para quem quisesse ver ou simplesmente apreciar.
Acho que, se eu visse uma árvore dessas, tão comum em Brasília (e creio que ate em todo o Brasil) florescer amarela, me informaria se ela seria derrubada e se fossem me acorrentaria a ela e iria fazer muito barulho a ponto de ser tirada à força de lá.
Se um dia você vir uma árvore dessas florescendo amarela, isso pode ser um presente de despedida.
P.s.: Eu mesma tirei essa foto, quem quiser pode pega-la, apesar de não ser o melhor ângulo dela. E a proposito, quem souber o nome dessa árvore, poderia me dizer por favor?